quarta-feira

O VISITANTE

Um indigesto conhecido
me visitou outro dia
e desde aquela ocasião
tem-me falado sempre

Ele sabe muitas coisas
sabe tudo o que fiz
também o que não contei
e sabe bem ser amargo

Se falo, não me escuta
prossegue seu castigo
diz ser meu abrigo
essa velha penitência

Se o calo, reaparece
e, cada vez mais forte,
reassegura-me ainda
de que já estou vencido

Se fossem só palavras
tudo aquilo que me diz
poderia então ignorá-lo
mas não é simples assim

Ele canta a dor nascida,
quebranta os ais de amor
e escancara a vergonha
sem sombra de piedade

Toma rostos conhecidos
companheiros de viagem
amigos de infância
e antigas namoradas

Ainda que de início
sua voz soe doce
seu efeito é malogrado
serpenteia no âmago

Me trata como amigo
pois todas suas visitas
são feitas com afinco
e não pensa me largar

Se uma coisa o digo
é seu maldito nome
ele se chama vazio
e me tem muita afeição

De nada me adianta
pois ele sabe onde dói
fala de dentro de mim:
"espero você passar"

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